Não é o fim da profissão é o fim do amadorismo. Nasce a advocacia de negócios, orientada por gestão, dados e IA.
Lembro-me com uma clareza quase desconfortável do dia em que recebi minha carteira da Ordem. O peso daquele documento em minhas mãos parecia carregar o legado de gerações de juristas, um portal para um mundo de estabilidade, respeito e de um caminho profissional bem definido. A faculdade havia me entregue um mapa, e eu, orgulhosa, acreditava que ele me levaria ao tesouro. Mal sabia eu que aquele mapa já estava obsoleto antes mesmo de ser impresso. E se eu te dissesse que a faculdade de Direito não nos preparou para o futuro? Pior: ela nos ancorou no passado.
Nos últimos anos, essa sensação de descompasso se tornou uma certeza. O mundo para o qual fomos treinados um mundo de petições artesanais, de longas esperas processuais e de um conhecimento jurídico trancado a sete chaves simplesmente não existe mais. Muitos colegas veem essa mudança com medo, como se o chão estivesse se abrindo sob seus pés. Eles falam sobre a crise na advocacia, sobre a precarização da profissão e sobre a ameaça da tecnologia. Eu vejo de outra forma. Não estamos vivendo uma crise; estamos testemunhando uma metamorfose. O que está em jogo não é o fim do Direito, mas o fim do amadorismo. É o nascimento de uma nova era: a advocacia de negócios, uma prática jurídica que não apenas entende de leis, mas que é profundamente orientada por gestão, dados e inteligência artificial. Este não é um lamento pelo que perdemos, mas um guia para o que podemos nos tornar.
A Colisão de Dois Mundos: A Advocacia na Encruzilhada
O momento atual do Direito pode ser descrito em uma única palavra: colisão. De um lado, temos o Direito tradicional: formalista, reativo, analógico e, sejamos honestos, lento. Um universo onde o tempo é medido em anos processuais e o sucesso, muitas vezes, em pilhas de papel. Do outro lado, temos o mundo dos negócios do século XXI: ágil, digital, globalizado e, acima de tudo, preditivo. Um ecossistema que opera na velocidade da luz, onde decisões são tomadas com base em dados e a eficiência não é um luxo, mas uma condição de sobrevivência.
Essa colisão não é sutil. Ela é barulhenta e transformadora.
A tecnologia deixou de ser um acessório para se tornar parte integrante da infraestrutura da Justiça. Plataformas como a Jurídico AI e o ChatADV já oferecem soluções que vão desde a redação automatizada de petições até a análise preditiva de jurisprudência. O advogado que insiste em operar como se estivesse em 1990 não está apenas sendo nostálgico; está sendo negligente com seus clientes e consigo mesmo. É como um médico que se recusa a usar um estetoscópio digital porque prefere o analógico uma escolha que pode custar vidas, ou no nosso caso, casos.
Isso nos leva à pergunta que assombra tantos profissionais: o Direito acabou? A resposta é um sonoro “não”. O que acabou foi o monopólio da complexidade que nós, advogados, detínhamos. Por séculos, nosso valor residiu no acesso exclusivo a um labirinto de leis e procedimentos. A tecnologia, ao democratizar o acesso à informação, implodiu esse monopólio. Hoje, um empresário pode encontrar um modelo de contrato com uma simples busca no Google ou usar uma plataforma para resolver uma disputa de consumo sem jamais falar com um advogado. O valor não está mais em ter a informação, mas em saber o que fazer com ela.
A transformação é profunda: estamos deixando de ser meros “resolvedores de problemas” para nos tornarmos “arquitetos de soluções”. O foco está migrando do contencioso reativo para o consultivo estratégico. As empresas não querem mais um advogado que aparece apenas quando o problema já explodiu; elas precisam de um parceiro que ajude a evitar que a explosão aconteça.
Diante disso, há mercado para continuar atuando como antes? A realidade é nua e crua: não. Atuar como antes é como insistir em usar uma máquina de escrever em uma era de computação em nuvem. É uma prática heroica, talvez, mas economicamente suicida. Os serviços jurídicos básicos, como a elaboração de documentos padronizados ou a gestão de contencioso de massa, estão sendo comoditizados. São tarefas que as máquinas fazem mais rápido, com menos custo e, muitas vezes, com menos erros. O valor do advogado moderno não está mais no “o quê” ele faz, mas no “como” e, principalmente, no “porquê”.
O caminho que a advocacia deve seguir, portanto, não é uma trilha estreita, mas uma avenida larga e pavimentada pela gestão e pela tecnologia. O destino é a advocacia de negócios. Uma advocacia que fala a língua do C-level, que entende de planilhas de Excel tanto quanto de acórdãos do STJ, que discute métricas de performance (KPIs), práticas de ESG (Environmental, Social, and Governance) e arquitetura de software com a mesma fluidez com que debate teorias do Direito. Para navegar nesta nova realidade, não basta intuição. É preciso um método, um mapa. E é esse mapa que desenvolvemos e aplicamos todos os dias, uma verdadeira engenharia da Advocacia de Negócios.
O DNA da Advocacia de Negócios
Quando decidi que meu escritório, o Viegas & Viegas, não seria apenas mais uma banca de advocacia, mas uma verdadeira empresa jurídica, eu sabia que precisava de ser cada dia mais inovadora, investir em tecnologia, sistemas robustos. Atualmente utilizamos diversas ferramentas, mas o ADVBOX tem sido um aliado que nos permiti escalar, gerenciar mais de 12.000 processos e, o mais importante, entregar resultados mensuráveis para nossos clientes. Ele é o nosso DNA.
1. PESSOAS (People): O Capital Humano Reimaginado
O primeiro e mais importante pilar é sobre quem está no barco. A advocacia tradicional foi construída sobre a figura do “advogado-oráculo”, o jurista genial que detinha todo o saber. Esse modelo ruiu. A advocacia de negócios é um esporte coletivo. Não basta ter os melhores juristas; é preciso ter os melhores gestores, os analistas de dados mais perspicazes, os especialistas em marketing mais criativos e os experts em tecnologia mais inovadores. O sucesso hoje depende de uma equipe genuinamente multidisciplinar.
No Viegas & Viegas, essa filosofia é vivida na prática. Quando contratamos, olhamos para além do diploma de Direito. Buscamos profissionais com mentalidade de dono, que entendam que a advocacia é um negócio. Investimos pesadamente em um programa de desenvolvimento contínuo que inclui treinamentos em sistemas e inteligência artificial, liderança e gestão, gestão de tempo, além de trazermos anualmente especialistas em liderança empresarial, consultores de RH e psicólogos organizacionais para fortalecer nossa missão, visão e valores. Contamos também com assessoria em engenharia de produção para otimizar nossos processos internos, complementada por cursos constantes de negociação, vendas e técnicas avançadas. Nossos colaboradores passam por uma evolução permanente que os transforma em verdadeiros empresários do direito.
A cultura que promovemos é a do “advogado-empresário”, um profissional que não apenas executa tarefas, mas que pensa estrategicamente o crescimento do cliente e do nosso próprio negócio. Isso significa que um advogado trabalhista no nosso escritório não apenas conhece a CLT, mas entende como as decisões trabalhistas impactam o fluxo de caixa de uma empresa. Um especialista em direito societário não apenas redige contratos sociais, mas compreende como a estrutura societária afeta a carga tributária e a governança corporativa. É essa visão holística que nos diferencia no mercado.
2. PROCESSOS (Processes): A Engenharia da Eficiência Jurídica
Se as pessoas são o coração, os processos são o sistema circulatório da advocacia de negócios. A prática jurídica não pode mais ser um ateliê artesanal, onde cada peça é única e imprevisível. Ela precisa ser uma linha de produção de soluções de alta qualidade. Isso significa mapear, otimizar e, sempre que possível, automatizar cada etapa do trabalho. O Legal Project Management (LPM) não é um conceito da moda, é uma necessidade absoluta.
No nosso dia a dia, isso se traduz no uso de sistemas de ponta para gestão, mapeamento de processos e Business Intelligence (BI) que nos dão uma visão 360º de todos os casos. Com assessoria especializada em engenharia de produção, desenvolvemos processos internos robustos que garantem que saibamos exatamente em que estágio cada processo está, quem é o responsável e quais são os próximos passos. A automação na criação de documentos e na triagem inicial de casos, por exemplo, libera nossos advogados de tarefas de baixo valor agregado, permitindo que eles se concentrem no que realmente importa: a estratégia, a negociação, o aconselhamento complexo. Eficiência não é sobre trabalhar mais; é sobre trabalhar de forma mais inteligente.
3. PLATAFORMA (Platform): A Base Tecnológica Estratégica
Tecnologia não é um centro de custo; é o principal motor de crescimento e diferenciação competitiva. A plataforma de um escritório de negócios vai muito além de computadores e acesso à internet. Ela engloba um ecossistema integrado de hardware e software, incluindo ferramentas de Inteligência Artificial para análise de jurisprudência, plataformas de Business Intelligence (BI) para visualização de dados e sistemas de CRM (Customer Relationship Management) para gerenciar o relacionamento com os clientes.
No Viegas & Viegas, utilizamos tecnologia de ponta para transformar dados em inteligência estratégica. Nossa infraestrutura moderna nos permite analisar padrões e prever resultados, oferecendo aos clientes um nível de precisão e assertividade antes impensável. Essa capacidade analítica também revolucionou nossa precificação. Abandonamos a lógica arcaica do faturamento por hora que pune a eficiência e adotamos modelos baseados em valor e resultados, alinhando nosso sucesso financeiro diretamente ao sucesso do cliente.
4. PROPÓSITO (Purpose): O Norte Ético e Estratégico
Em um mundo saturado de tecnologia e algoritmos, o propósito humano se torna o maior diferencial. O quarto P é a alma do negócio. É a resposta para a pergunta: “Por que fazemos o que fazemos?”. O propósito é a missão, a visão e os valores que guiam cada decisão, desde a contratação de um novo talento até a estratégia adotada em um caso de grande repercussão. Ele inclui um compromisso inabalável com a ética, a transparência e a responsabilidade social, materializada nas práticas de ESG.
Nosso propósito no Viegas & Viegas é claro: ser o parceiro estratégico que impulsiona o crescimento sustentável dos nossos clientes. Esse propósito, combinado com nossos valores de ética, transparência e atendimento personalizado, é a nossa bússola. Ele nos lembra que, por trás de cada processo, CNPJ ou contrato, existem pessoas, sonhos e projetos de vida. É o propósito que nos leva a buscar soluções que não sejam apenas legalmente corretas, mas que sejam também justas e benéficas para o negócio e para a sociedade.
5. PERFORMANCE (Performance): A Advocacia Orientada por Resultados
O último pilar é o que separa a advocacia de negócios do amadorismo. O que não é medido não pode ser gerenciado, e o que não é gerenciado não pode ser melhorado. A advocacia de negócios abandona as métricas de vaidade como o tamanho do escritório ou o luxo do endereço e foca obsessivamente em métricas de performance: rentabilidade por caso, custo de aquisição de cliente (CAC), lifetime value (LTV) do cliente, ebitda e satisfação do cliente (NPS). É a aplicação da gestão baseada em dados à prática jurídica.
Essa mentalidade de “máquina de resultados” e de formar “Empresários do Direito” é o que nos permite tomar decisões estratégicas com base em evidências, não em achismos. Usamos dados para identificar quais áreas do direito são mais rentáveis, quais clientes são mais estratégicos e onde nossos processos têm gargalos. Por exemplo, descobrimos que nossos casos de planejamento sucessório têm uma margem 40% maior que os contenciosos trabalhistas, o que nos levou a realocar recursos e especializar mais profissionais nessa área.
Monitoramos métricas como o tempo médio de resolução de casos (que conseguimos reduzir em 35% nos últimos dois anos), a taxa de conversão de consultas em contratos (atualmente em 68%) e o Net Promoter Score (NPS) dos nossos clientes, que se mantém consistentemente acima de 80. Essa gestão orientada por performance transforma a prática jurídica em um negócio previsível, lucrativo e, acima de tudo, escalável. Não é mais sobre trabalhar mais horas; é sobre trabalhar com mais inteligência e propósito.
A Alma na Era das Máquinas
Ao celebrar a eficiência, os dados e a gestão, seria fácil cair na armadilha de uma visão fria e desumanizada da nossa profissão. Mas é precisamente o oposto que acredito. A tecnologia otimiza, mas quem humaniza? A Inteligência Artificial pode redigir uma petição em segundos, mas não pode oferecer um ombro amigo a um cliente que enfrenta um divórcio doloroso. Um algoritmo pode analisar milhares de sentenças, mas não pode sentir o peso de uma decisão que impactará o futuro de uma família ou o destino de uma empresa com centenas de funcionários.
Neste novo cenário, o papel do advogado como guardião da justiça, da empatia e dos direitos fundamentais não apenas sobrevive, como se torna ainda mais crucial. A tecnologia é a ferramenta; o advogado é a consciência. Quanto mais o mundo se torna algorítmico, mais precisamos de sabedoria, discernimento e coragem moral. A atuação jurídica exige mais do que o conhecimento técnico; ela requer a capacidade de acolher o drama do cliente, mergulhando em sua história e reconhecendo a carga de sofrimento que muitas vezes acompanha um processo, esse desde o primeiro dia sempre foi nosso lema, empatia com a dor do cliente. A tecnologia pode nos dar as respostas, mas é a nossa humanidade que nos permite fazer as perguntas certas.
Manifesto: O Amanhecer da Advocacia
O fim do Direito como o conhecemos não é uma ameaça. É uma libertação. É a oportunidade de nos libertarmos do trabalho repetitivo e sem alma para nos tornarmos os estrategistas, os conselheiros e os líderes que nossos clientes e a sociedade precisam que sejamos. É a chance de sermos mais relevantes, mais eficientes e, paradoxalmente, mais humanos.
A mudança não vai pedir licença. Ela já está aqui. Cabe a cada um de nós decidir se seremos espectadores nostálgicos de um passado que não volta mais ou protagonistas na construção do futuro da nossa profissão.
Abraçar a mudança. Tornar-se um empresário do Direito. Liderar a transformação.
O futuro da advocacia não está em crise. Ele apenas começou.
Fonte:O Fim da Advocacia
Gostou desse conteúdo? Acompanhe meu perfil no instagram e fique por dentro!
(16) 99133-9959